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Encanto sedutor da linguagem



A frase “o texto é a fonte de vida da propaganda, tudo o mais são acessórios”, de Stanley Resor, publicitário da maior agência do mundo, mostra que a maioria das soluções persuasivas expressas em palavras, origina naturalmente de redatores. Em princípio, o recurso editorial tem maior poder de envolvimento do que as imagens. Somente as palavras movem montanhas, quanto às imagens, não. Dentro desse contexto deve-se conscientizar a indiscutível soberania do redator, através de frases, títulos, textos – palavras.
A primeira impressão é a que fica. É comum acontecer nos anúncios, uma ilustração em destaque, bela e expressiva, com um texto rudimentar, surgindo assim a necessidade imprescindível em cena da técnica de um exímio redator, a fim de lhe dar concisão, ritmo, fluência – para complementá-la. Mas técnica não é criatividade, está aquém dela, posterior à descoberta da solução, profundamente ligada ao campo da argumentação e debate. Uma propaganda impressa, vinculando o título com o texto, é aquela que argumenta, fundamentalmente, expõe um partido, uma peça de oratória consumista, uma elegia com fins práticos, sedutores. Tal a importância, a necessidade das pessoas envolvidas em sua criação estarem realmente “febris” com o que vão anunciar. Exemplo da imagem invocada é a do encantador de serpentes que, no meio da multidão curiosa, toca passivamente a sua flauta, levantando-a vagarosamente do cesto, encantando e deixando boquiabertos os espectadores. Realmente, truque e hipnose!
Ao elaborar o apelo, expondo-se à argumentação, estruturando a mensagem em si, é importante que o texto não exija do leitor ou ouvinte qualquer esforço para compreendê-lo ou percebê-lo. Não se deve esperar do público qualquer predisposição ou interesse em descobrir o que se deseja vender-lhe. É preciso dizer, da maneira mais clara e simples possível, o necessário, nada mais que o necessário, a fim de facilitar-lhe a compreensão, eliminando todos os obstáculos de fazê-lo recuar. Diríamos mais: A mensagem deve ser-lhe familiar, sem com isto deixar de ser nova.
Os anúncios de produtos culturais são meios de evolução do próprio público. Com eles, o público tem aprendido muitas coisas novas, além de comprar e usar o produto anunciado, alterando os seus hábitos de vida, melhorando um novo gosto pela literatura, pelo estudo, revelando-lhe novas palavras, seu uso e sua concordância. Todavia, a boa redação deve reunir simplicidade,clareza e objetividade, sem perder nas formas complexas e muito literatas. O texto de publicidade é uma forma de jornalismo mesclada com literatura. A originalidade deste está em sugerir, em criar novas formas de convencer, em ter força atrativa, fugindo ao comum.
O texto não é invenção do redator. Muito ao contrário, o redator tem sua liberdade limitada à própria finalidade do produto, suas utilidades, seu público. Há a necessidade de o texto ser uma exposição honesta. Não adianta inventar qualidades para o produto ou serviço, armar uma argumentação ideal, se o produto não tem essas qualidades, se não é suficiente para provar-se, no uso, junto ao público. O falso texto poderá resultar na primeira venda, porém, está fadado a não produzir a continuidade do uso. Para vender ao público, é indispensável que o redator tenha comprado o produto. Isto é, tenha se convencido de suas qualidades, pois somente assim estará em condições de, inflamado, poder transferir ao público as suas impressões, a sua convicção, dando vazão ao seu espírito criativo, idealizando situações novas de uso, encontrando argumentações favoráveis ao produto.
Expressar com clareza e convicção as qualidades reais do produto, criar e indicar condições mais favoráveis ao uso, estabelecer seus pontos principais de venda são fundamentais ao texto. Mas não se espera de um redator a criação de “algo excepcional”, se ele próprio não se convence de que o produto é bom.

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