Pintura Jardim das Delícias de Bosch
Sobre Sérgio Buarque
de Holanda não há nada definitivo. Os estudiosos estão sempre descobrindo
coisas de espantar. Uma verdadeira joia das ciências sociais das Américas. Visão do Paraíso é uma grande
referência especial, notadamente da historiografia, do país. O livro, de
pesquisa e de consulta, vem a ser, assim, uma das mais notáveis realizações
editoriais. Distingue-se, também, pela qualidade de seu volume. Publicado pela
primeira vez em 1958, vem sendo reeditado pela importância que tem.
Trata-se, na verdade,
de um dos livros mais notáveis da historiografia brasileira. Sobre “os motivos
edênicos no descobrimento e colonização”, estuda assunto que diz respeito não
só ao Brasil, mas à América Latina, para não dizer à mentalidade do Ocidente. A
busca de novas terras ou o alargamento do ecúmeno estão ligados a uma tendência
natural do homem, não só pela curiosidade ou desejo de expansão, mas também
pelo ardor de conquista, para a afirmação do poder político ou enriquecimento,
com a descoberta de novos recursos econômicos ou de outras áreas em que os
elementos já conhecidos sejam mais facilmente encontráveis. O crescimento da
economia foi em certo instante, sobretudo, a incorporação de novas faixas
territoriais, como se viu nos séculos XV e XVI, com a expansão do capital
comercial na primeira fase do mercantilismo. A mente dos homens era dominada
não só por motivos econômicos, mas também edênicos. O encontro do habitante em
estado supostamente natural despertou o sentido de aventura, a criação
artística, a experiência científica, confundidos com o mito ou o sentido
religioso.
O tema é de difícil
deslinde, pelo que requer de erudição, conhecimento historiográfico,
antropológico, etnológico, sociológico, filosófico, religioso, literário. A
erudição para cobrir área dilatada de conhecimento e a cultura para bem
assimilá-los e interpretá-los. Entre nós, só Sérgio Buarque de Holanda poderia
escrever livro de tal riqueza e abrangência. Tinha para a tarefa a vastidão de
informações e a sensibilidade para apreender experiências ou imaginações tão
requintadas. Escreveu assim um texto singular na bibliografia nativa, que não
prima pela erudição nem pela temática de alto voo.
Visão do Paraíso despertou a atenção dos círculos de estudos
brasileiros e pode chegar ainda a todos os iberos, pois fala do espanhol e do
português, como de suas projeções na América. O texto é instigante e de superior
realização literária. Buarque de Holanda escreveu aqui uma de suas obras mais
valiosas e permanentes, que marcam o seu lugar no quadro da cultura do
continente.
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