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Mostrando postagens de novembro, 2016

Paixão movida por compromisso

“Meus poemas têm fome de humanidade e, contrariando o poeta, podem dizer o que penso ainda que eu, através do artifício da linguagem, induza o leitor a pensar que é ele que assim pensa. A função do poema, originada nas fomes, é justamente provocar outras fomes. Meus poemas têm fome do mundo que me cerca e das coisas que, de alguma forma, me perturbam e desassossegam.” ( Da entrevista Sobre poesia, ainda: Dalila Teles Veras, do blog Contra tanto silêncio, de Tarso de Melo. )             Para comemorar sua vida e obra, a poeta Dalila Teles Veras lançou Setenta - Anos, Poemas, Leitores (Alpharrabio Edições, 110 páginas, Santo André, São Paulo - 2016). Uma antologia de setenta poemas escolhidos dos quinze títulos publicados pela escritora ao longo de 34 anos de intensa vida artística e ativismo cultural. Os textos que ilustram as páginas foram carinhosamente escolhidos por 70 convidados (escritores e amigos da poeta) de diferentes id

Bibliografia de Pound no Brasil

Foto: Franz Larese, Erker-Galerie, Burano, Itália, 1971             O poeta Ezra Pound quem diria, por pouco não acabou ensinando chinês no Brasil. Em dezembro de 1957, meses antes de se ver livre do confinamento no Hospital St. Elizabeth, em carta destinada ao grupo da revista Noigrandes , o poeta se dizia disposto a vir para São Paulo, caso fosse acolhido no primeiro país a propiciar uma edição oficial de suas obras (trata-se de uma seleção dos Cantos, Cantares , traduzida pelos irmãos Campos e Décio Pignatari, editada pelo Serviço de Documentação do Ministério da Educação e Cultura (MEC). A ideia não prosperou e Pound voltou para a Itália, onde Murilo Mendes foi encontrá-lo em Roma, aos 76 anos em 1961, como “sua própria ruína sobrevivente”. O tom melancólico do encontro, em que o poeta brasileiro anotou a impressionante semelhança física de Pound com a imagem que se faz do Quixote, e o autor dos Cantos concordou, dizendo ser por causa da loucura, fic

Mundo fragmentário, ilógico e caótico

Ezra Pound personificou o modernismo anglo-americano, fundando o imagismo e o vorticismo             Uma sucessão de erupções polêmicas e criativas é a síntese da vida do poeta norte-americano Ezra Pound. Ele legou uma obra plural – a crítica militante, as traduções, as duas óperas e, sobretudo, a poesia – um percurso de semeador, não se furtando a influenciar e patrocinar o talento alheio. Onde o reconhecia ou podá-lo, quando impostor. É essa trajetória que o poeta e crítico inglês Peter Ackroyd, biógrafo de T. S. Eliot , e autor de um romance biográfico sobre os últimos anos de Oscar Wilde , se incumbiu de registrar no breve volume ilustrado, organizado em 1981 para as Literary Lifes , Thames and Hudson, traduzido por Francisco Alves, e teve a primeira edição lançada pela Editora Jorge Zahar, em dezembro de 1991.             Pound personificou o modernismo anglo-americano, fundando o imagismo e o vorticismo (teorias retrabalhadas pelo moviment

Rimbaud galês

Em seu último livro, um tom elegíaco de celebração da vida combinado com a simplicidade das imagens poéticas             A produção inicial de Dylan Marlais Thomas (1914-1953), fonte para muitos dos poemas futuros, foi guardada em cadernos, dos quais o poeta já se servia antes para a imitação de clássicos (Shakespeare, Milton, Blake e Hopkins). Neles, está registrado o aprendizado poético e o progressivo desenvolvimento de um estilo próprio que, tão logo foi trazido a público em Dezoito Poemas (1934), seu livro de estreia, financiado pelo jornal londrino Sunday Referee , demarcou sua diferença em relação à poesia hegemônica nos anos 30, engajada e se servindo de uma linguagem direta e acessível (W. H. Auden, Cecil Day Lewis). Os versos que lhe valeram o prêmio da página de poesia editada por Victor Neuburg e o volume elogiado por Edith Sitwell estavam marcados por uma sintaxe elíptica e uma valorização das imagens, elaboradas em teias complexas.

Com vocês: Sombras da Teia

José Caetano Silva*             “Sombras da Teia”, do amigo Rubens Shirassu Júnior, escritor prudentino, é um romance entremeado de um todo que envolve o mundo/submundo/real dos seres humanos suscetíveis de se imiscuir nos mesmos de forma inesperada ou consentida... O trabalho, pelo que se vislumbra na leitura, é fruto de pesquisa elaborada no cotidiano quase imperceptível da cidade de Presidente Prudente, encoberto pelo visual urbano de cidade limpa e bela, com povo ordeiro, pacífico, trabalhador, religioso, ético, honesto..A obra viaja pelos becos sem saída, escuros, por esquinas inquietas, desertas, por ruas desertas em madrugadas quentes ou frias, por galerias, redes de esgoto, cheiros, fedores, suores, sangue, lágrimas, cinzas, fumaças, cerveja barata, pontos de drogas, botecos de ponta de vila, trabalhadores insones, gente rica hipócrita, sanduíches de carne moída, coxas, cadeias, centros de recuperação, tatuagens, pistolas, facas, batons, sexo,