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Mostrando postagens de fevereiro, 2016

Entre margens

Pintura de Nadir Afonso Para Franz Kafka e Clarice Lispector             A ponte do Brooklyn tem 535 metros de comprimento, estende-se sobre o Rio Leste ligando os distritos novaiorquinos de Manhattan e do Brooklyn. O homem quer afastar-se do burburinho para refletir sobre si mesmo e sua arte. Para decidir que espécie de vida levará. Boca e garganta secas de desejo sufocado e calado. Mas, a noite da sua ponte tem o silêncio. Como estar ao alcance desse profundo meditar sem recordar imagens e palavras. Aquele silêncio particular seria a ponte clandestina do mundo. Quanto à Williamsburg, ela lhe propicia ficar a sós, em busca tanto de concentração como de meditação, bem como por questão de isolamento – não por sua própria causa, mas em atenção a outras pessoas, que, como bem sabe, são perturbadas pelos sons altos e ruídos diversos.             Quando a madrugada clareia a ponte, os vultos saem das sombras de sobressalto. Uma sensação da manhã insin

UM POETA AMIGO MEU

Pintura em muro na Avenida Esperança, em Goiás Dedicado a Rubens Shirassu Júnior É vento que sopra as águas do mar, mergulha na escuridão provocando ondas e labirintos de solidão, nas noites de raios e tempestades liberta-se das grades das gaiolas, das angústias dos casulos, das cadeias das prisões, das sombras no espelho, saltando em um voo de fúria e medo, entre gritos e desejos, não vive, só vê. Helena Maria Cressembini 12 /02 / 2016 – 16h56

Como é poroso este fogo

Pintura Baco, Vênus e Amore de Rosso Fiorentino (1531-1532) Para Ellen Vargas Aglio Como é doce o teu corpo junto à lareira. Na febre destilada nos cachos de teus recatados seios e se formaram arvorados os cabelos de chuvas e sóis. No meio, o sossego das bagas desperta com as ancas, lento arvoredo. Da mata escura, colhi as uvas maduras, que escorrem mas a sede da terra tragou, a marruá acalmou por debaixo de tuas vinhas secretas, de som sereno da nascente. Entre as coxas e a cintura o que te dei preserva com chama o arco-íris na tua nudez, flutua cruzando o céu te avizinhas à alta constelação. Vê-se a olho nu: Ontem, a nebulosa, te entretecendo mitos, que abrangem sem alarde. Hoje, na hora mais propícia você se mostrou de corpo inteiro. Como se fossem gorjeios sobre a varanda e os trêmulos seios e os bambuais vão crescendo. E são doces a tua boca e o teu ventre. O som, a palavra, o grito fazem

(De)líri(c)o obcecado II

Pintura Os Quatro Elementos: Fogo, de Arcimboldo (1566) Sobre a palma do teu sol escondido, úmido e frio, a minha alma se estende pelas ruas, fluindo como um rio. Pardo Tietê, do Peixe, Epitácio, a calma. Caudaloso Paraná, pavio aceso, o poema flama como labaredas despertas sobre a cama em braseiros de céus vulneráveis reluzentes. E chamam os dias nas nascentes, Nossas mãos entrelaçadas Nossas almas e corpos, esta fornalha amor, amor teu fogo nos teus cílios sonâmbulos, a luz escorre com teus olhos, não há candeia semelhante. A torre de sol atocha sobre as águas.

Texto de prudentino atinge 68 polos do Brasil

Publicação promove as ideias e a reflexão pela escrita e ação social              As jornalistas Danieli Crevelaro e Giovana Campanha, responsáveis pela publicação trimestral Fala!EAD , do Centro Universitário de Maringá (UniCesumar), do Estado do Paraná, selecionaram o poema Temporal II , de Rubens Shirassu Júnior, poeta, contista, revisor de textos e acadêmico de Pedagogia no polo de Presidente Prudente. O texto literário está disponível na edição de número 4, de janeiro, fevereiro e março de 2016, na coluna “O espaço é seu”, na página 8 da publicação periódica.             O informativo Fala!EAD possibilita aos estudantes e ao público em geral, um olhar aprofundado e crítico sobre as produções acadêmicas e literárias contemporâneas produzidas nos 68 polos presenciais do Brasil. Premiados poetas, escritores, entre outros profissionais liberais, com propostas de estilo e linguagem diferenciadas e utilizando as ferramentas das novas tecnol

Entre a sabedoria e o desejo físico

Um dos maiores dilemas da condição humana: o que deve prevalecer?  O culto à beleza física, que se mostra passageira e tangível?  Ou a valorização da sabedoria advinda do culto das ideias? CABEÇAS TROCADAS Thomas Mann Coleção Thomas Mann Novela 112 páginas 2ª edição Largura: 14 cm Altura: 21 cm Encadernação: Brochura Editora Nova Fronteira Ano: 2000             Thomas Mann hindu? É o que o leitor encontrará quando folhear as páginas da novela “Cabeças Trocadas”, do escritor alemão, editada pela Nova Fronteira. Mann escreveu de 1933 a 1935, a tetralogia “José e seus Irmãos”, que passa no Egito, e não encontrou dificuldades para narrar uma história que se desenvolve na Índia, baseada nos cultos religiosos do país. A Índia, analisada por Mann, reflete a face da mitologia.             A obra é saudada por Nigel Hamilton, o autor de “Os Irmãos Mann – As Vidas de Heinrich e Thomas Mann 1871-1950 e 1875-1955”,

(De)líri(c)o obcecado I

Pintura de Marcel Caram O poeta junto às roseiras olha para as moças porque o seu umbigo caiu. Sua mãe enterrou no meio das roseiras. Assim o poeta se via com a mão no umbigo das moças, vivendo obcecado e preso ao umbigo da mulher sua musa e sua amante ruiva.

Ossada de Lorca V

Um poeta em Nova York de Federico García Lorca As armas se gastam ou se quebram, a marca permanece inscrita do que passou em valas. Assim teus traços, como o mais, se apagam. A feição que na terra se finca nada consegue apagar, eternizada nas visões profundas, vistas ou não de tudo o mais desconhecido escureja, denso, encobre os cadafalsos, os desertos e o despenhadeiro ladeiam teu abandono. Enquanto alguém recolheu teus ossos restos precursores, o mito fazemos o nosso um movimento a mais entre tremores não os tiveste porque não te cabia. Nada mais que quase encontraste à frente o fim que não buscaras, mas findar te pareceu demais ter estado diante do mundo eras o que fizeste: preparar o encontro com aquele universo dos monstros todos reunidos em chão escuro. Muita terra se quís nas noites aquelas que se foram buscar no dia que não se tem e não veio, existe a exaltação das trevas em que o sonho

Ossada de Lorca IV

Ilustração de Federico García Lorca Estamos, sim, escondidos, onde não há luz de holofote que nos persiga, e acreditando, partiremos para o próximo além. - até que nos cansemos. Sabias do fim e não te importou tanto assim, entraste. O que há de buscar é diverso agora e o mesmo, no horizonte de fora. Imagens sucedem Imagens que projetam e voltam e cedem, ou não. Imaginação, utopia e romantismo Rotularam teu meio. Rotularam em vão. Tu, Lorca, crês, a vida soa e aclara a noite voraz - mas que som, que vida, que verdade? Destruíram a vida pretendida por contrária a uma outra retidão, a ordem do dia perfurou a carne da ave do amanhecer um novo mundo se cala sob os estampidos, seca-se a garganta do pássaro.

Ossada de Lorca III

Busto de Federico García Lorca Pintou com a tinta das letras a nau, não por pintar. Mas acreditou que nela havia onde chegar. Ninguém mais crê nesta magia a notícia de tua morte, poucos sabem onde estás. Poderão entender se faz diferença estar morto ou se é melhor morrer ao perder o descaminho. Não há linha que te vá deter Não te importa saber aonde levas, à extensão do que querias o que querias é muito adiante quiseres chegar mas sempre se ergue adiante um campo por guerrear. Ninguém sabe para onde foi. Apenas suspeita. Hoje, ocorre um tempo nublado: é o não pensar. Esconder o fim e a tempestade, se é impossível crer. Isso de esperança não existe. Existe a ossada do pássaro que se foi e não mais se viu. O sangue já não se sente onde agora há só o querer passado  e a vontade fria na treva que ofusca. No corredor da escuridão não há volta, resta abismar. Este não afunda porque já afun

Ossada de Lorca II

Federico García Lorca Teu discurso atravessa a tela do século,/ ecoando o canto do pássaro que mora em tua garganta sob os muros, grades, cercas elétricas nos compartimentos da fortaleza das cabeças cartesianas, dos homens uniformes. Vestes da instituição de controle dos prisioneiros no cativeiro e fora da jaula procuram a canção verde das asas farfalhando no azul dos arquipélagos do pensamento nem descansam mesmo nas ondas que dão velas ao recheio do peito e sejam soprados pela procura em nova rota. Por haver motivo Por estarem vivos num mundo desigual. Quando aqui não teve espaço nem bandeira que te porte, sem mal pode erguer o braço. Neste desfiladeiro, entre a angústia e o esquecimento, uma vela em lugar sem vento/ que dispunha, por um momento. Sem mais saídas, confinado.

Ossada de Lorca I

De que vale os segundos de fama, deusa hedonista de raios luminosos, filha hipócrita da Nova Idade Média e midiática? Reação em cadeia dos dentes da engrenagem, a moeda gira no labirinto de espelhos da cidade, chove em pílulas elétricas nos neurônios, corrente induzindo a curiosidade no vaso de verde dólar da glória do prazer hedonista e de poder dos mercadores, pelo interesse de criar necessidade: Onde se encontra a ossada de Federico García Lorca, por anos e por séculos, sei lá, até quando? Por que e para quê? Qual o ponto de partida, a vela, a seta e a meta? Mera especulação editorial, pois a moda é mercenária muda de períodos em períodos rápidos. Uniforme, passageira e efêmera artimanha capitalista, excremento do manual da estética consumista, chapéu mexicano no parque de diversões, condomínios & piscinas de desespero, jogos, passatempos & entretenimento na cabeça escrava da necrofilia,