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Mostrando postagens de agosto, 2015

A Queda

Sobre um tema de Albert Camus A queda de um homem tenso o medo é preso dentro do elmo pelo estreito de um pensamento suspenso pelo próprio peso. Vertigem e frenesi, combate intenso do buraco negro no espelho o juízo de Deus e o touro derrotados na arena contas de vidro e memória, do medo da queda livre caindo sobre si mesmo.

Cacilda!

Todas as afirmações masculinas que independem do pinto - foram, de um jeito ou de outro, uma extensão das primeiras calças             Nenhuma palavra expressa a nossa perplexidade diante do universo feminino do que a palavra Cacilda! Mas quem quer usar a palavra não para fascinar, mas para transmitir um pensamento ou apenas desabafar encontra um desafio maior, pois a expressão Cacilda tem dois lados. Dependendo do estado de espírito soa picante e com dose pejorativa. Pela história mostra as raízes de nossos hábitos e costumes machistas.             Uma das tantas teorias é a angústia do pênis exposto no começo da civilização. Quando os primeiros homens desceram das árvores e foram morar na savana, por andar eretos e ter que pegar as frutas foi que seus órgãos sexuais ficaram expostos ao escrutínio público. Por complexo de inferioridade, os machos tomaram providências, começando por tapar suas vergonhas, para não darem às fêmeas a chanc

Fora do controle remoto

A volta do sensacionalismo como forma de atrair o público Apavoramento Nº 2 quinze adolescentes de ambos os sexos foram chicoteados na bunda por batalhões da TFP que os insultavam enquanto trezentos rapazes & moças da seita imperialista Hare Krishna cortavam rodelas de cebola & colavam em seus olhos. Roberto Piva             Este poema é quase uma notícia de jornal: poderia estar nas páginas de uma revista ou rede de televisão popular, do tipo modelo Notícias Populares. O acontecimento que narra foi comum nos piores dias da repressão quando grupos de direita, como Tradição, Família e Propriedade (TFP), Comando de Caça aos Comunistas (CCC) e outros fascistas, fundamentalistas e dogmáticos invadiam impunemente universidades, teatros, exemplavam estudantes, etc. Uma poesia mutante, inquieta, sem filiar a nenhuma estética literária em particular, embora se veja nela traços do modernismo de 22, das experiên

Sade, o pacificador da carne

Capa da 1ª edição de 1985 Vê no sexo praticado com perversidade a mais autêntica, porque amoral, manifestação do inconsciente             Ninguém melhor do que Guy Endore conseguiu sintetizar quem foi Sade: na biografia romanceada que ele escreveu sobre o autor de Cento e Vinte Dias de Sodoma, este é definido como santo diabólico. A razão é simples: Sade mergulhou em cheio na impossibilidade (que afeta todos nós, só que somos hipócritas para admitir que é separar a influência diabólica da divina.) Ela é o enredo da nossa vida. Vilém Flusser chamava de influência divina tudo aquilo que tende para a preservação do mundo no tempo. Nossa consciência é o palco onde essas influências se revezam e se confundem. Sade, deixando-se invadir por elas, não só fotografou o seu tempo em todas as suas misérias morais, como transcendeu-o ao fazer delas a base de uma literatura visceralmente inconformista.             Morto em 1814 com 77 anos, Donatie

O Pai Onipotente

Ilustração de Stephanie Harges Uma reflexão lúcida também sobre o poder patriarcal CARTA AO PAI (Brief an Den Vater) Franz Kafka Tradução de Modesto Carone Editora Brasiliense 88 Páginas             Não existem muitas cartas incluídas entre as obras literárias com a importância e o interesse dessa carta de Franz Kafka a seu pai. Incluí-la entre as obras literárias do autor foi uma decisão de seu amigo Max Brod e me parece que ele acertou. Primeiro, por causa das qualidades literárias da carta que a excelente tradução de Modesto Carone consegue resgatar. Segundo, porque, embora endereçada ao pai que nunca chegou a recebê-la, existe nela um fundo ficcional tanto no modo como o autor fala de si próprio, do jeito que enxergava o pai, a família e a rede de relações em que todos eles se inscrevem.             Provavelmente, Kafka tenha falado mais livremente de si e de seu universo afetivo quando escreveu sua ficção do que na

Objeto de estima

Ele a beija manchando de batom os grandes lábios - mil asas de borboleta à flor da pele             Apolo é um deus da mitologia grega. O corpo coberto de uma capa em vermelho. Esbelto, atraente e um tom enigmático. Esse adorável objeto do desejo. Pior que um gato que esfrega o rabo entre as pernas. Ali, à espera, silencioso, todo imponente e imóvel no papel do criado mudo.             — Você, charmoso em seu jeito frio e calculista. Se eu ralho, não sai lágrima azul do seu olho.             Um Adônis de beleza saudável e escultural. Nem traz despesa financeira, nem precisa de acompanhamento médico, tratamentos, regimes ou remédios. Após as tarefas do dia. A vida na sua essência propõe que desfrute. Só de vê-lo — ó doçura lacta se derretendo sem morder — o arrepio lancinante no céu da boca. A senhora deita-o no colo. Ele a beija manchando de batom os grandes lábios - mil asas de borboleta à flor da pele. A senhora o conduz por toda a boca riscand