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Mostrando postagens de setembro, 2014

O Palavrão Somos Nós

É só a mostragem de barro ordinário de que somos feitos             No curso primário, no futebol de rua e no Tiro-de-Guerra, aprendi à força todos os palavrões regionais do Brasil: eles designavam tudo, a vida, a morte, o amor, a mulher, a geometria, a pátria, o pão... Enfim, era impossível viver com os homens sem ouvir e dizer palavrões; mais tarde, passou também a ser impossível viver com as mulheres de boca limpa. Hoje estou bastante integrado na sociedade humana e digo palavrões com naturalidade. Só que depois de tanto agravo, acabei por perceber uma verdade fundamental: o palavrão mostra uma grande parte de nossa imagem. É um espelho, mas um espelho ao contrário: reflete aquilo que é invisível em nós. Ora, diz um escritor muito esperto que os homens se diferenciam pelo que fingem e se assemelham pelo que escondem. Assim, o palavrão serve para mostrar que somos iguais, e só por artifício é que podemos ser diferentes.             O palavrão somos nó

Ornamento Íntimo

Aquarela de Luci Brogliato Brandimiller (Lu BB) De frente a uma paisagem de primavera senti-me dentro de uma pintura em aquarela.

Anotação

As centelhas dos meus olhos desviam do espectro céu esclerosado. Nem quero iluminar uma constelação coalhada de estrelas podres e azedas.

A Lei e a Responsabilidade

Delegam toda a responsabilidade sobre o problema as universidades, sem pensar se estes  (futuros alunos negros,  afro-descendentes e indígenas) possuem condições  (a base estrutural) para adentrar e permanecer nas mesmas             O tema da história da Cultura Afro-Brasileira e Indígena borbulha a nossa mente de perguntas e, ao mesmo tempo, instiga a uma pesquisa mais profunda na condição de educador e escritor. Em razão da pluralidade cultural, uma das características marcantes da cultura brasileira, resultante do processo histórico-social e das dimensões continentais de nosso território. Essa diversidade multicultural e a miscigenação da sociedade foram construídas através do suor e do trabalho não remunerado de indígenas e africanos que receberam, como fruto de seus esforços físicos, a segregação e os maus-tratos.             Quais as reações provocadas do encontro destas diferentes culturas e modos de vida? Como interpretar o q

Caio Pego II

À beira do precipício ficou parado de cabeça baixa, desenhando figuras nas pedras com os olhos. Ali ficou em pé durante um momento o rosto voltado para a distância. Separado da terra firme por larga faixa dos companheiros, da família, dos colegas de trabalho, do ar, da água, entre outros elementos químicos por um capricho orgulhoso, que vagueava, uma imagem altamente distante e desligada, com o cabelo esvoaçando, lá fora do mar, no vento, de frente ao nebuloso ilimitado              De tanto emergir evaporei-me. Como mergulhador, sondei-me e deixei-me submergir e vivo pensando se sou profundo ou raso. Um sopro de vida no olhar mostra o claro enigma da pegomancia no abismo refletido no espelho d´água a minha face contempla o calabouço. Nunca me realizei como Caio Pego fitando o Céu.             Não trabalhava como alguém que trabalha para viver, trabalhava como alguém que nada mais quer se não trabalhar, porque como s

Dois poemas sobre Prudente

Ilustração de Rubens Shirassu Júnior Prudente Ruminante Blues Aos 97 anos da cidade As casas iluminaram suas milhares de pálpebras ruas aos poucos bebem luz devagar... Céu virou coalhada de leite virgem, entupiu-se junto, o poste amigado ao silêncio A noite é o que sobrou na criação do mundo apreciar os barulhos que não se ouvem sitiados dentro das pessoas. Os prédios entristecem à-enxaqueca: passaram o dia calculando Passa as horas decorando um hino fluvial. As ruas enumeram casas estrelas magras penduram-se em postes boquiabertos os prédios exageraram uma altura só para comer as nuvens. A treva ampla se relaxa pra para engolir um segredinho. Noite boa, contraolhos não volve a ninguém o que finge? Os prédios prosam entre as janelas como sono comprido rebuscam quantias de ar. Aqui, as ruas fazem concurso de barulho. Sábado: dia promovido. As artérias acessam a todos, gente namorosa com â

Caio Pego

Como se estivesse com a cabeça inteira dentro do poço e alguém começasse a tocar acordeão na beira do rio. Pequenas bolhas de som explodiam sem choque  contra seus ouvidos, nota após nota, até formar-se também por dentro aquela melodia tão remota e lenta que parecia vir mais da margem,  mas do fundo.              De estatura mediana, moreno claro, com buço. Sua cabeça parecia um pouco grande demais em relação ao corpo quase flácido. Seu cabelo penteado para trás, na risca e nas fontes bem ralo e fortemente encanecido, emoldurava uma testa normal, alcantilada e cheia de cicatrizes, que eram o registro da ansiedade das unhas pressionando. A asa dos óculos de cor prata, com lentes sem aro, cortava a raiz do curto e nobremente arredondado nariz. A boca era grande, muitas vezes frouxa e, repentinamente, estreita e esticada; a parte das faces, magra e sulcada pela falta de dois dentes, o queixo bem formado, delicadamente partido. Considerávei

Confraria na Casa das Rosas

Recebi e agradeço o convite dos organizadores Um superlançamento de livros com debates e leituras Em 10 de setembro (quarta-feira), às 19h30 CASA DAS ROSAS Avenida Paulista, Nº 37 Bela Vista São Paulo – SP DEBATES: 19h30 - Como se Preparar para o Fim da TV Conversa com Yvana Fechine 20h00 - Valéry, Versos e Outras Frentes Bate-Papo com Carlos Felipe Moisés e Márcio André Mediação de Donny Correia 20h45 – Sarau com Autores da Confraria 21h15 – Sessão de Autógrafos LANÇAMENTO DOS LIVROS: Poemas Apócrifos de Paul Valéry traduzidos por Márcio André Frente & Verso de Carlos Felipe Moisés O Fim da Televisão de Mario Carlón e Yvana Fechine Uma Temporada no Holiday de Giba Carvalheira Este Outro Mundo que Esquecemos Todos os Dias de Lélia Almeida Casa Devastada de Thiago Mattos Amores, Truques e Outras Versões de Alex Andrade UMA PROMOÇÃO: Confraria do Vento, Poiesis e Governo

Os Cavalos

Os cavalos têm o ardor de nuvens. Eternos, correm seguindo as trilhas do sol e da lua, as bússolas que os guiam ao selvagem coração, cavalos loucos, soltos no horizonte. Um clarão nos olhos, as picadas abertas, galope da vida em círculos do tempo. Quando saltam, das crinas descarregam rolos de ares.