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Mostrando postagens de maio, 2014

Nosso Pedaço de Mundo

Tínhamos os ouvidos apurados, esperávamos quietos, a cadência das gotas batucando no telhado.             Era preciso que ficássemos imóveis, talvez, respirando com mais cuidado, até que levássemos as mãos e os corpos de encontro. Então, tínhamos um suspiro de alívio. Havíamos vencido, mais uma vez, os nossos inimigos. Nossos inimigos eram toda ansiedade, preocupação, stress, inquietação, medo, apesar da população mesquinha e frívola da cidade imensa, que transitava lá fora, nos veículos, dos quais nos chegavam o barulho distante de motores, a sinfonia abafada das buzinas, às vezes, o ruído de um carro estacionando em frente de casa. Todos os barulhos, por mais intensos que sejam, caem nas águas do silêncio e viram gotas brilhantes como contas de vidro, fundem-se com as cores das auroras.            Tínhamos os ouvidos apurados, esperávamos quietos, a cadência das gotas batucando no telhado. Um segundo, dois – e o batuque ritmado toca

Apontamento sobre Chave

Achar a chave que esqueci de destrancar feita sob medida de avistar o último miramar, além de nobre trilha para subir na vida e cruel mitologia.

Muito Macho na Cozinha

A cozinha hoje, é um anexo da sala e não mais o esconderijo dos escravos             Vivemos em pleno universo das transformações na moda, nos costumes e consumo. Começaram a mudar com os novos “sujeitos” da culinária (homens principalmente) e a transformação da cozinha em parte nobre da casa. Uma evolução cultural ou nova sedução pelo paladar? Pela falta de emprego e outros problemas sociais que enfrentamos, surge uma figura polêmica no universo machista brasileiro: o homem doméstico. Qual seria a reação do personagem Leonardo, interpretado por Jackson Antunes, na novela A Favorita de João Emanuel Carneiro, se perdesse o emprego na fábrica. Um tipo grotesco, machista ao extremo e reacionário, um pai omisso e um marido execrável, que trata a mulher Catarina, como empregada e objeto.             Como muitos, a sua mulher teria que assumir os compromissos com a casa e os filhos. Você sente uma mistura de complexo de inferioridade com dose

Um Copo Cheio e Frio

“É sempre bom lembrar / Que um copo vazio / Está cheio de ar / É sempre bom lembrar / Que o ar sombrio de um rosto / está cheio de um ar vazio / vazio daquilo que no ar do copo / Ocupa um lugar / É sempre bom lembrar / Guardar de cor / Que o ar / vazio de um rosto sombrio / Está cheio de dor / É sempre bom lembrar / Que um copo vazio / Está cheio de ar / Que o ar no copo / Ocupa o lugar do vinho / Que o vinho busca ocupar lugar / Da dor / Que a dor ocupa a metade / Da verdade / A verdadeira natureza interior / Uma metade cheia / Uma metade vazia / Uma metade tristeza / uma metade alegria / A magia da verdade inteira / Todo poderoso amor / É sempre bom lembrar / Que um copo vazio / Está cheio de ar.” (Copo Vazio, Gilberto Gil)                         Ele sempre sonha com um túnel vertical, uma espécie de chaminé, por onde se aprofunda, lentamente, planando, numa espécie de levitação inversa. O túnel é todo de pedra negra, mas os

O Vento Assovia na Chuva Tímida

A presença da água parecia reportar ao idílio do bairro de antigamente, quase sem casas...             Dias seguidos de seca. Tristeza entre as plantas do jardim, estorricadas pela seca, queimadas pelo sol de outono. As folhas das samambaias espalmam-se sequiosas para receber a água que sobre elas se despeja, duas vezes por semana. No xaxim, formam-se regos por onde escorrem miniaturas de riachos. Desesperados no aspirar fundo, os cachorros magros, na rua, encostam o focinho nas guias da sarjeta. O sol bate e se firma pondo as línguas de sede para fora, andam sem direção na esperança de um fio de água das calçadas.             E assim foi por dias e dias seguidos. Após um tempo de estio, com baforadas de ar quente, seco e abafado, cai uma cortina de chuva tímida. Já repararam que é quase sempre pelas 18 horas que o tempo vira? O que faz a gente dar um imenso bocejo, uma mistura de preguiça com dor nas juntas do corpo.             Qu

A Aventura de Existir

A aventura de existir: tem o ardor de nuvens se empinando dentro de mim. Os cavalos atravessam rumo a um pátio. A aventura de existir: a esperança descarrega rolos de ares bêbada. Mistura-se ao puro sangue vivo, a existência, rodeada de vento. Uma vinha inteira, no nitrir das manhãs, exaltada, levanta a descampada face rósea amorável e as ervas das crinas mugem de verdor. A aventura de existir: Todo galope é um pássaro! Cercado do amor, da penúria e da brevidade.

Apontamento sobre Asas

Entre as chaves o colar feito de chaves. Mais do que um pedido pendurado: Onde ficaram as aves abatidas? No açougue das almas em ganchos, embutidas? Nos fichários dos armários, como atestado do medo, sua assinatura tremida. De todas aquelas sentenças lidas, seladas de princípios, orifícios de identidade corroída, forjadas em cartilhas, trancadas nas portas entalhadas. O que sobrou: As aves recordações.

Curso Baudelaire na tradução de Guilherme de Almeida

Reprodução do convite enviado por Raquel Naveira             O poeta Guilherme de Almeida foi um dos principais tradutores da obra do francês Charles Baudelaire para a língua portuguesa. Este curso, em três encontros, destacará a produção de Baudelaire e a importância do Simbolismo como expressão na poesia universal, e discutirá as traduções de poemas de As Flores do Mal ( Les Fleurs du Mal ) feitas por Almeida, comparando-as com os textos originais. Perfil             Raquel Naveira, poeta, escritora e palestrante, graduada em Direito e em Letras pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, onde lecionou de 1987 a 2006, no Departamento de Letras. Possui o título de Mestre em Comunicação e Letras pela Universidade Presbiteriana na Mackenzie, e formada no Curso Superior de Língua e Literatura Francesas pela Universidade de Nancy, na França.             Atualmente, dá aulas em cursos de Pós-Graduaç

Fora da Esquadria

E o que acontece quando se ajusta, para, desacerta para os outros             Ele tem horror que o considerem juiz de sua terra, demonstrando uma aversão a julgamentos. O que faz é relatar acontecimentos, espera tirar conclusões positivas para todos. Um homem precisa entender o seu povo e a sua terra para viver a plena cidadania com dignidade. Como dispõem os princípios morais dos manuais dos Direitos Civil e Constitucional. Milhões de palavras impressas nos livros, as ciências e as filosofias, uma torre de babel, visões do alto e do baixo.             Em cima do precipício, um cabo-de-guerra: de um lado o desejo, a curiosidade, do outro, o medo no limite da carne, que bate o impulso, a loucura vibrante de saltar no escuro para o desconhecido, o profundo do poço do calabouço. É a experiência de se descobrir, o caçador  livre caminhante busca a revelação. Precisa conhecer a si mesmo, e se ver dentro do meio em que vive. Senão,

Encontro discorrerá sobre o Vale Cultura no Matarazzo

                Na próxima terça-feira (20.5) às 10 horas, estará um representante do Ministério da Cultura - MinC -, da Regional de São Paulo, na Sala de Cinema Condessa Filomena Matarazzo, do Centro Cultural Matarazzo, de Presidente Prudente. O encontro para esclarecimento sobre o Vale Cultura resultou de uma parceria entre MinC, Governo de Presidente Prudente e Secretaria Municipal de Cultura.             Entre os assuntos que serão abordados durante o evento: As diretrizes para implantação do Programa Vale Cultura do Ministério da Cultura, com o propósito de garantir meios de acesso e participação nas diversas atividades culturais promovidas no País. Consequentemente, fortalecer o mercado consumidor de bens e serviços criativos, contribuindo para o aumento de opções de entretenimento, valorizando a cultura juntamente com os produtores locais e nacionais e, ao mesmo tempo, integrando socialmente a população, possibilitando o acesso às artes em geral,

Mestra Doutora cita texto de escritor prudentino

O artigo foi reproduzido no início da 3ª aula da disciplina             Siderly do Carmo Dahle de Almeida Barbosa, Mestra Doutora, utilizou o artigo “Biscoitos do Saber com Sabor”, de Rubens Shirassu Júnior, de Presidente Prudente, numa aula em 17 de abril passado. No texto, o revisor, escritor, poeta e editor de livros, em linhas gerais, discorre sobre o uso da criatividade, entre outros recursos artísticos e artesanais, como atrativos para despertar a curiosidade, a dúvida e a pesquisa nas crianças. Além da valorização da arte na educação e a força na carga de incentivo transmite esperança aos seus colegas acadêmicos e futuros educadores.             A professora Siderly, natural de Curitiba, possui o título de Doutora em Língua Portuguesa, e ministra a disciplina sobre o método de ensino do idioma na UniCesumar, uma tradicional universidade de Maringá, no Estado do Paraná, que trabalha também pelo sistema de educação a distância desde o início

Presidente quebra paradigmas

Mujica expõe a nova política, e um erro apaga a história de P. Prudente             Produzir uma publicação dinâmica, ligada aos debates local, nacional e um pouco do internacional, é uma atitude que inclui coragem, idealismo e, além disso, revive o romantismo no século XXI. Na palavra de Zelmo Denari, José Roberto Fernandes Castilho, Maria Angela D´Incao e Marília Libório, o jornal mensal Pio-Pardo, do qual são os editores, com a participação de colaboradores, foge do destino imposto às pequenas publicações voltadas ao círculo restrito de pensadores: a divulgação de um jornal sem vínculos com os interesses de grupos políticos e empresariais, mas, sim, com os problemas atuais de Presidente Prudente e do País.             Sua distribuição concentra-se em três pontos estratégicos: nos condomínios residenciais, no Centro Cultural Matarazzo e numa antiga e tradicional revistaria do centro da cidade, além dos assinantes, onde o Pio-Pardo

Nos Toques do Atabaque

Ao legado da cultura africana A aura lilás rodeia a sua pele, imprime a força ancestral no couro o atabaque, a antena da raça, parabólica dos orixás. O toque do atabaque tangencia o ar, o vento, o fogo e a água, nos quatro pontos cardeais que independem das pedras, dos ferros das casas, dos prédios, êxtase da clarividência, nirvana, transe de Dionísio em comunhão com o Cosmo. O som do atabaque penetra em qualquer coisa e lugar. O atabaque bate mais fundo do que oferenda bate mais fundo do que fixar tenda. Melodia no ritmo do coração das raízes com aroma de cana, de açúcar mascavo, destila a cachaça das senzalas desidratadas, que engasgam pelas brasas curtidas os gritos das almas sofridas, rapadura da vida escravocrata. Seu choro negro é música, manifestação democrática, onde dançam homens, mulheres, crianças e deuses, que inspiram a luta, o desejo e a guerra entre nações.