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Mostrando postagens de outubro, 2013

Haicais, Kamikazes Sazonais

Jardim Zen O homem não é unicamente escravo do tempo  e da morte, mas que, dentro de si, leva outro tempo             Para Matsuó Bashô, “o hai-kai não era apenas poesia em sua forma mais pura, mas acima de tudo um exercício espiritual. E na senda espiritual não pode haver limites impostos pela razão humana.” Esta típica poesia japonesa chama-nos para uma aventura verdadeiramente importante: a de nos perdermos no cotidiano para encontrar o maravilhoso. Viagem imóvel, ao término da qual nos encontramos conosco mesmos: o maravilhoso é nossa verdade humana.           O haicai abre as portas de satori ou iluminação: sentido e falta de sentido, vida e morte coexistem. Não é tanto a anulação dos contrários nem sua fusão como uma suspensão do ânimo. Instante da exclamação ou do sorriso: a poesia já não se distingue da vida, a realidade reabsorve a significação. A vida não é nem longa nem curta, mas é como o relâmpago, um fenômeno

Poema para Soprar no Vento

É o vento forte que vem do coro de vozes no encontro com a melodia do infinito. É o vento que vem gemendo na espinha do abismo turvo insondável que me separa de mim. É o vento percutindo as teclas do telhado. Abro as janelas da memória Abro as janelas da casa, é o vento encanando no corredor ventilando fantasmas, que rompe o cerco das paredes, explodindo a argamassa de calcário e solidão. É o vento coreografi a de pássaros. inunda meu quarto crescente das pupilas dos meus olhos debruçados sob o vento. Abro as cortinas do vento, sinto a torrente de vida, a clara algazarra das vozes aveludadas, sanguíneas da alvorada. É o vento que vem abrindo as lentas pálpebras. É o vento que molha a boca de paixão calada, é o vento que vem mordendo a carne congelada das nuvens negras, o mofo acumulado entre os lábios, o limo que vestiu a carne desolada. É o vento que faz rolar os cascalhos, os seixo

A Entrevista

Um dia arrancaram meu crachá vermelho, exigiram o uniforme azul escuro, pediram devolução das placas com os números que me identificavam e me tornaram gente dentro da indústria.             Parece que me esqueci de ser gente. Há tempo não tenho atitudes normais. Não rio, nem entristeço, mas, sofro abalos, emoções. Como se eu fosse um pântano, onde as coisas caem e morrem. Areia movediça, imóvel aparentemente e destruidora. Tudo o que é vivo e entra em mim, morre. Não é nada agradável descobrir isto. Eu tinha momentos de depressão, mas costumava ser alegre, irônico e sarcástico. A turma gostava de mim porque era capaz de dizer a frase certa e engraçada, na hora exata. Não que fosse o palhaço da turma. Era um espírito crítico, suficiente para encarar as situações com uma ironia saudável, a única forma de enfrentar o mundo sem ser levado à loucura. Agora, minha boca endureceu, os músculos não se movem. Simplesmente porque não tenho vontade.

As Faces Marcantes da Fofoca

Capa do LP do grupo Língua de Trapo Aparentes trivialidades podem oferecer pistas para a compreensão das mentalidades ou premissas das pessoas             Numa tarde seca, quente e abafada, passeava a pé por antigo bairro da cidade. Na esquina de uma rua estreita, observei um bar. Em uma de suas paredes, que constituem tentação tão grande para os pichadores, alguém tinha rabiscado três palavras em letras grandes: “Centro de Fofocas.” A primeira coisa que me veio à cabeça foi tentar imaginar quem poderia ter escrito a mensagem – que provavelmente não era uma descrição sociológica neutra, mas a reação irada de uma vítima anônima, alguém que acreditava ter sido alvo de mexericos recentes. A segunda coisa foi refletir sobre a fofoca como fenômeno social, sobre sua geografia, sua sociologia e sua história.             Quando falo em “geografia” da fofoca, não me refiro à sua distribuição pelo planeta, pois é pouco provável

Os Cowboys de Hollywood

O Jeca Tatu de Monteiro Lobato Quanto mais incorporasse influências externas, mais se tornaria pop e atraente            A aparência atual do gênero está mais para caubói hollywoodiano, o som sai de guitarras, teclados e apresenta batidas eletrônicas, as letras são melosas, românticas e medíocres. Mas, na origem de toda música sertaneja estão as duplas de música caipira do início do século. Percebe-se que houve um processo de canibalização das tradições pelo mercado da cultura de massa. Como a indústria cultural absorve a música caipira para transformá-la em sertaneja? É um processo que se iniciou em 1929, no século 20, quando a música caipira foi gravada pela primeira vez. Cornélio Pires pegou então a música folclórica cantada por duplas no interior e a formatou nos moldes da indústria cultural, limitando o tempo de gravação.       Ao perceber que se tratava de um estilo comercialmente atraente, as gravadoras da época passa

Convite Recebido

A diretoria da Câmara Brasileira do Livro tem a honra de convidar V. Sra. para  a solenidade de entrega do 55º Prêmio Jabuti. Nesta ocasião serão homenageados os escritores e profissionais do livro que conquistaram o mais tradicional prêmio literário do País em 2013. 13 de novembro às 19h30 Sala São Paulo Praça Júlio Prestes, 16 - São Paulo - SP Entrada diretamente pelo estacionamento Rua Mauá, 51 Traje: Social completo R.S.V.P.: jabuti@cbl.org.br

A Salvação

A primeira coisa que um gênio salvador chega e faz é inventar, digamos, o liquidificador           Em todas as épocas e de todas as formas o que o ser humano quer é se salvar. Quando era pequeno, há 52 anos, a salvação era o liquidificador, hoje chama-se mix. Lembro-me bem quando pintou o liquidificador. Diziam parentes, vizinhos e amigos, uma “maquininha” que passa para o teu organismo a energia e a doçura de todas as frutas possíveis. Era como se diretamente, da própria árvore da vida, os frutos fossem caindo dentro do liquidificador. Mas o tempo foi passando e ficou claro que a prodigiosa “maquininha” não melhorava significativamente as cores e os humores das pessoas. Além disso, sujava muito a cozinha e, ao impedir a mastigação natural das frutas, apressava a queda dos dentes. Enfim, não salvou.            Mas a salvação é assim. Na mágica hora em que surge tem que ser obrigatoriamente absoluta e automática. A primeira coisa que um gêni

CBL divulga os vencedores do Jabuti

"Diálogos Impossíveis", de Veríssimo: 2º lugar na categoria (Imagem Portal A Tarde)             Na última quinta-feira (17/10), aconteceu na sede da Câmara Brasileira do Livro (CBL), em Pinheiros, São Paulo, a apuração da segunda (e última) fase do 55º Prêmio Jabuti, a maior condecoração literária do País, uma sessão aberta à imprensa e ao público em geral.       As três obras, das 27 categorias, que receberam a maior pontuação dos jurados foram consideradas vencedoras, em sua categoria, em primeiro, segundo e terceiro lugares. A lista dos finalistas do prêmio deste ano encontra-se no site: www.premiojabuti.org.br/resultado      O resultado foi validado pelo Conselho Curador do prêmio e pela Auditoria Parker & Randall. O júri, formado por especialistas de cada categoria, só será revelado na entrega do prêmio aos vencedores, em 13 de novembro, ocasião em que serão anunciados os Livros do Ano de Ficção e Não Ficção.       Veja abaixo a