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Mostrando postagens de julho, 2013

Lilith

Lilith (1892) de John Collier Há alguns anos o meu pai possuía muitos bens. Agora, para dizer seu paradeiro é algo incerto. Entregou-se à bebida por ter perdido num motor desenfreado na esquina da vida, um náufrago da pinga. Comecei a trabalhar cedo como auxiliar de escritório. Parte do salário sustentava a casa e comprava roupas à prestação. O tempo como o trabalho das nuvens, subindo de cargo. O meu pai atinava na lógica dos ratos na escuridão: - Como pode uma menina dessa idade ter um bom salário. Sua sem vergonha, Messalina! Anda saindo com seu chefe, vamos confesse! Já no sacramentado bar, comprar cachaça com o dinheiro do bolso da filha na matinal. Lilith prendeu na tarrafa um namorado de família tradicional, alto, de vinte e um anos, proprietário do único carro importado da cidade. Nos seus catorze anos chegou depois das três da manhã, pelas pontas dos pés, guarda-pó amarrotado rumo à porta do quarto. Seu Antonio foi tirar satis

Vigília

Sang d´un Poete de Jean Cocteau O olhar de lince fareja o estado de coisas soturnos os meus olhos vagam em decifrar o breu na tentativa de encontrar farol. Os seres obedientes dormem, enquanto as labaredas do globos felinos velam a escuridão do quadro negro com sua própria luz. ( Página 62, Cobra de Vidro, poemas, São Paulo, 2012. )

Convite Recebido

Crônicas em estilo cinematográfico resgatam a memória FANTASIAS DE MEIA PATACA José Antonio Pereira Crônicas Apoio e Promoção: Secretaria de Cultura de Cataguases Intermeios – Casa de Artes e Livros Dia 10 de Agosto de 2013 Horário: Às 19h30 Local: Biblioteca Ascânio Lopes Chácara Dona Catarina, S/Nº Centro Cataguases - Minas Gerais Carteira de Cronista Numa linguagem que remete ao Salinger de O apanhador do campo de centeio, José Antonio busca num tempo perdido (e no agora,) da mítica infância/adolescência o assunto de suas deliciosas crônicas.  E aí está, a meu ver, a sua maior qualidade: uma técnica sui-generis aliada a uma memória cinematográfica. Mas, é ele um autor inédito? Mais ou menos: José Antonio integrou o quarteto que veio a se chamar de Os cronistas da rua Alferes, em referência ao livro que publicou juntamente com Vanderlei Pequeno, Emerson Teixeira Cardoso e José Vechi: Portanto, é quase inédi

A Experiência em Ciclo e Transformação

Criança geopolítica assistindo ao nascimento do novo homem (1943)  de Salvador Dali “ Procurar compreender as leis profundas que manipulam o real, através da natureza do mundo. Esta, é eternamente  incompleta e, portanto, puro movimento e transformação.” I Ching Sempre sob inegável suspeita dos conservadores, hipócritas e provincianos, por seu ângulo de visão muito objetivo e seu caráter pouco alegórico, o existencialismo se manteve, contudo, nas últimas décadas, como uma das forças mais influentes do pensamento contemporâneo. Há muitas razões para isso, desde a vigência espetacular que conheceu no pós-guerra até sua tendência presente à revitalização, em face da evidência do fracasso de formas do pensamento mais intelectualistas. A filosofia contemporânea chegou a uma complexidade verbal delirante e, na melhor das hipóteses, insensata, cuja principal operação é a substituição sistemática do concreto pelo abstrato, do prático

4º Salão do Livro terá Surpresas, Literatura e Artes

A Secretaria Municipal de Cultura trabalha intensamente para promover o maior evento literário da região oeste do Estado, o Salão do Livro. Mesmo já fazendo parte do circuito literário do País, o objetivo não muda: crescer em qualidade. Isso significa autores consagrados para que o público tenha contato com eles, oficinas, palestras e workshops literários, “contação” e contadores de histórias, atrações artísticas (teatro, dança e música), editoras, livrarias e maior tempo de duração. Não é um evento tradicional em Presidente Prudente, mas o crescimento desde 2010 pode ser notado, pela procura tanto de expositores como editoras, além do aumento da visitação por parte das instituições de ensino da cidade e região. Da mesma forma, também se constata a procura pelos próprios autores em participar do evento que ganha nome e importância no cenário nacional. Em 2012, os organizadores acrescentaram um dia a mais para visitação, para atender aos cerca de 7.

Objeto do Vazio Mental

Arte abstrata e decorativa pode agradar os sentidos,  mas não o espírito, pois não representa nada. Um objeto estranho na sua aparente clareza e simplicidade formal. Parece circundar um vazio, que, se tocado mais de perto, poderia torná-lo claustrofóbico. Seria uma espécie de volta ao mundo de quatro paredes, sem o poder de mudar seu destino. Como na pintura metafísica italiana – com a qual faz correspondência – o letárgico está entranhado no cotidiano e convive bem com ele, e, como na pintura, em seu final as sombras parecem ser mais eloquentes que a própria luz. A mesma sensação de caos interior e desorientação ao ser o(a) leitor(a) provocado(a) pela leitura do poema “A Caixa” traz a reflexão: “O tempo aprisionado, esse rio que nos arrasta para o nada.” A caixa, como figura geométrica, reflete a transparência e a despojada forma. Diante de uma realidade caótica, a arte do objeto turvo de uma época turva, a expressão de uma sociedade fes

O Prazer da Vida

Epicuro Epicuro diz que “felicidade é, essencialmente, ausência de dor. Saúde”. Isso para pessoas ditas normais como a maioria das pessoas, mas não para sábios de extraordinária musculatura interior como ele. O filósofo grego do período helenístico sofreu dores excruciantes em seus últimos dias, e suportou-as com firmeza. Certa vez, declarou a um amigo que o visitou à beira da morte, que a alegria de recebê-lo suplantava todo sofrimento que ele pudesse ter. Vítima de uma monstruosa injustiça da posteridade, Epicuro de Samos (do grego antigo “Epikouros”, aliado, camarada, nasceu no ano 341 a.C.  e faleceu 270 a.C., aos 71 anos em Samos, Atenas) tinha uma vida de extrema frugalidade. Comia queijo, pão, tomava água. Basicamente, esta era sua dieta e, no entanto, seu nome ficou associado ao hedonismo, à gula, a excessos de variada natureza. Nada mais contrário do que a vida que o filósofo levava e pregava aos discípulos. Dante Alighieri, na Divina

Muitos Brasis

Desenho de 1944 “O Brasil não tem unidade de raça, de clima, ideológica, de cultura e não precisa, pois essa é a cultura brasileira, a cultura da diversidade.” Euclides da Cunha

Resgate do Corpo Social

Uma pedra-de-toque para o significado político de toda criação poética “Poesia é a subversão do corpo. Vivemos numa época em que todas as partes do corpo social, ocultas até agora, virão à tona: os proletários, os homossexuais, os índios e os marginais.” ( Signos em Rotação, de Octavio Paz ) Sobre o Livro: Assunto: Crítica Coleção: Debates 48 Tradução: Sebastião Uchoa Leite Formato: 11,5 x 20,5 cm Páginas: 320 Acabamento: Brochura Edição: 3ª 2012 – 4ª reimpressão Peso: 306 g ISBN: 9788527300742 "Octavio Paz é indiscutivelmente um poeta do pensamento, não apenas da afetividade e da existência... É um poeta diferente. O mais lúcidos dos poetas. Empregou um pensamento não apenas teórico... porque, dentro de seu ritmo. Era bastante louco. Era um poeta com uma imaginação muito forte, muito influenciado pelo surrealismo. Octavio foi um homem que soube viver e morrer com grandeza e com decência espe

Antologia Bar do Escritor Tomo IV

Íntima ligação entre o mundo virtual contemporâneo e o real O Bar do Escritor, uma comunidade de autores e entusiastas da literatura, age coletivamente em busca da promoção literária e da difusão do pensamento crítico e libertário. Nesta quarta antologia de contos, crônicas e poemas, lançada pelo grupo, reuniram-se 45 autores do País, para escrever sobre o que mais apreciam, um bom bate-papo num botequim. São textos que abrangem diversos sentimentos, desde o mais formal ao mais lisérgico. Entre os autores reunidos, destacam-se membros de academias de letras, jornalistas, compositores, vencedores de concursos literários, cartunistas, juízes de direito, filósofos, membros antigos do Bar do Escritor (BdE), algumas comunidades de literatura, incluindo vagabundos, malucos, os malditos, os amantes, os amadores, os amigos, entre outros escritores de toda espécie. Wilson R., candidato à eleição na Academia Brasileira de Letras, no prefácio,   considera

A Cegueira Adestrada

 A manipulação da TV em "1984", de George Orwell Nada há na ciência, nem em qualquer outra ideologia,  que tenha alguma coisa de libertador No Brasil, tanto à esquerda, aos de centro, como à direita, a palavra crescimento continua na ordem do dia. A uniformização do planeta em torno dos valores da classe média está levando a uma mudança antropológica para pior, onde o tipo Homem é confundido planetariamente com o tipo classe média. A ideologia do progresso percorre o receituário de todos os partidos políticos do Brasil assim como a “disciplina de fábrica” de origem taylorista, as intervenções neoliberais propondo os cursos profissionalizantes rápidos, com o objetivo de formar mão-de-obra barata para a indústria, percorrem os manuais provincianos de estética. A interpretação exclusivamente industrial do socialismo permite aos comunistas e aos capitalistas falar o mesmo idioma. É isso que a cegueira tradicional dos nossos intelect

Resenha no site da A.N.E.

Segue abaixo o link da página da Associação Nacional dos Escritores (ANE), de Brasília, com a resenha Retrato de Exilados em Terra Própria , de minha autoria, sobre o livro Pelos Caminhos do Mate, de Zelmo Denari: http://www.anenet.com.br/ portal/index.php?option=com_ content&view=article&id=519: retrato-de-exilados-em-terra- propria&catid=49:colaboracao& Itemid=67  

Artigo no Jornal GGN

Literatura Leia artigo sobre 120 anos do nascimento de Graciliano Ramos Autor de "Vidas Secas" teve uma vida em que a literatura e a política se entrelaçaram; por Rubens Shirassu Júnior. Clique e acesse o link da página principal abaixo com o artigo publicado no portal colaborativo http://jornalggn.com.br/ do economista, músico e pesquisador Luis Nassif

O Cosmo de Graciliano

B uscando uma compreensão melhor dos dilemas postos e os danos causados ao ser humano, além de deixar mais exposta à crítica das relações sociais, a prosa de Graciliano Ramos abandona a dissertação de teses, como naturalista e mostra as pessoas agitadas pelas tensões a que estão vivendo; os textos refletem em quadros talhados à madeira em uma análise psicológica os movimentos e a consciência destes mesmos personagens. O autor vale-se do estilo indireto livre para filtrar em palavras, já que elas são, pela força do destino, pela vida miserável a que estão submetidas, incapazes de raciocinar de forma lógica. A obra faz um painel de uma sociedade que recusa essa gente a cada instante, uma gente de tantas tristezas e poucas alegrias. E pelo jeito de ser e pelo seu comportamento é que somos alertados sobre a opressão reinante em tudo. “São Bernardo”,  escrito na primeira pessoa, o (a) leitor (a) não se liga ao personagem que conta a história (vale ressaltar a