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Mostrando postagens de fevereiro, 2012

Mal-estar da civilização

Foto de Augusto César Cunha Pessoa, de João Pessoa, Paraíba   “Quem é que está botando dinamite na cabeça do século?” (Defeito 2, “Curiosidade”, Tom Zé, 1994) A competição econômica, caso continue no mesmo ritmo, na opinião dos maiores ecologistas, sociólogos e economistas do mundo, levará a Terra a esgotar seus recursos em menos de 20 anos. Este século, ao invés de ser a idade de ouro da civilização do lazer, venha ser a época em que a humanidade estará submergindo, melancolicamente, sob o peso do seu luxo e da sua loucura. Por isso, o instinto de vida que responde a essa carga predatória universal brota suas sementes. Os seres humanos no mundo vêm questionando o antigo sistema falido junto à queda de todas as instituições. A luta que se travará neste terceiro milênio oporá a cultura dominante e a cultura alternativa que quer renascer. Do resultado dessa luta depende a sobrevivência ou não da espécie. Pela primeira vez, a tecnologia deu ao Homem o poder de destruição ou de

O PAU

pau-brasil em foto de Felipe Coelho Minha gente, não é de hoje que o dinheiro chama-se Pau, no Brasil. Você pergunta um preço e logo dizem dez paus. Cento e vinte mil paus. Dois milhões de paus! Estaríamos assim, senhor ministro, facilitando a dificuldade de que a nova moeda vai trazer. Nosso dinheiro sempre se traduziu em paus e, então, não custa nada oficializar o Pau. Nos cheques também: cento e oitenta e cinco mil e duzentos paus. Evidente que as mulheres vão logo reclamar desta solução machista (na opinião delas). Calma, meninas, falta o centavo. Poderíamos chamar o centavo de Seio. Você poderia fazer uma compra e fazer o cheque: duzentos e quarenta paus e sessenta e nove seios. Esta imagem povoa a imaginação erótica-maliciosa, não acha? Sessenta e nove seios bem redondinhos, você, meu chapa, não vê a hora de encher a mão! Isto tudo facilitaria muito a vida dos futuros ministros da economia quando daqui a alguns anos, inevitavelmente, terão que cortar dois zeros (podemos d

Desejo solar

Hipnos e Thanatos de John William Waterhouse Como a laranja, cortada ao meio, núcleo do desejo, úmida de amor, anseia pela outra, que lampeja a chama ardente. Essa força do desejo forma pontes de relâmpagos que nos enchem de magnetismo radiante. Embriagados pelo encontro de Eros e Psiquê, as carnes vagueiam sob um céu de estrelas, rodopios na própria essência do verão, dois pomos, as duas bandas do sol. Querer o desejo concreto dopa de coragem como o astro-rei, escorre o prisma cristalino, sumo da doçura que se confundia ao tocar as duas faces risonhas, pedaços de estrelas esfriadas, reflexo gêmeo de Hipnos e Thanatos. Curitiba, Paraná, fevereiro de 1991

As coisas desidratadas

Escultura de Dom Fernando Bate a enxada trovoada diamante risca, a queda brusca e silente da coifa no azul do céu. Choro seco, na aridez do chão, atravessa o olho de sol, réptil entrando nas veredas do deserto, as coisas defumadas pelo fumo denso e parado. E um lagarto engole bolinhos de chuva. Toda a sede imensa voa no reboque engessado da Hidra de Sal. Os ramos brancos remam modelando máscaras e espigões mumificados na areia movediça. Seus sonos cegos, cheios de asas emplumadas, as aves negras e desidratadas nos andaimes, os dias gorjeiam desfiando a mortalha.

O caos armado de rodas

 Em Presidente Prudente, hoje, tudo é voltado e (mal) planejado para as necessidades dos automóveis. Parece que as pessoas, em sua imensa maioria, desaprenderam a caminhar ou a se deslocar de outras maneiras. Mesmo para trajetos de 500m, elas optam pelo uso do veículo, seja próprio ou de transporte coletivo, talvez até pelo suposto status que o veículo particular possa conferir ao cidadão. Há uma enorme preocupação da Prefeitura em cuidar das pistas de rolagem, mas nenhuma em manter as calçadas minimamente trafegáveis para os pedestres e cadeirantes. É como se as calçadas fossem “terra de ninguém”; como se nenhum incauto fosse ousar caminhar a pé por elas. Acontece que há milhares de prudentinos que, por consciência ou por falta de opção, precisam caminhar pelas calçadas. E como é duro ser pedestre nesta cidade. Em muitos casos tornam-se praticamente invisíveis, pois os motoristas jogam seus carros sobre eles sem a menor cerimônia, dando ainda a entender que eles, pedestres, o

A senhora medo e a poesia do cotidiano

 A poeta mineira e a busca do encontro “O medo é a emoção mais terrível que conheço. Eu sou um monte de medos... Se alguém quiser uma palavra para me definir, fale: A SENHORA MEDO” “E só o cotidiano me interessa, porque ele é a vida de todo mundo. Um rei é poderoso, cerimonioso, extraordinário para nós que não somos reis nem poderosos.   Mas o cotidiano dele não deixa de ser um cotidiano. Então, a única coisa que me interessa como ser humano é o cotidiano, é o real.” Desejo “Minha mãe falava: quem caça, acha. De vez em quando tenho uma migalhazinha, um vislumbre, uma pálida amostra do que seja. Isso é a felicidade absoluta, porque encontrando a si mesma, você vai encontrar uma coisa maior. Nada vale tanto quanto isso. E a gente é bobo, né? Fica caçando outras coisas, e enquanto procura é muito divertido, a gente ri, chora, arranca os cabelos. Encontrar a si mesmo é o que eu desejo com toda a força da minha alma, para mim, para as pessoas que amo, para as pessoas que n

Sarau Solidário Carnaval do Modernismo

Cartaz do Sarau Carnaval do Modernismo da APE (Associação Prudentina de Escritores) Em comemoração aos 90 anos da Semana da Arte Moderna de 1922 No centenário da Independência, o Brasil principia o Modernismo Antropofágico pondo fim ao ranço beletrista, à postura verborrágica e à mania de falar difícil e não dizer nada. Por fim, eliminar o mofo passadista da vida intelectual brasileira. "A língua sem arcaísmos, sem erudição. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos".(Manifesto Pau-Brasil)  Contra as elites vegetais. Em comunicação com o solo. Nunca fomos catequizados. Fizemos foi Carnaval. (Manifesto Antropofágico. E isso tudo, em pleno fevereiro de 1922! Cenário - Celso Aguiar Arte - Fábio Fogo Música - Banda Provisória e Banda A Simetria Literatura - Paula Hanke, Sulei Mara, Rubens Shirassu Júnior, Célia Marli, Luís Amaral e Carlos Freixo Entrada: 1 kg de alimento não perecível a ser doado ao Hospital Allan Kardec de Presidente P

UBE, a entidade dos escritores ignora a Poesia

Álvaro Alves de Faria em recente evento em São Paulo Para quem não sabe, UBE quer dizer União Brasileira de Escritores. Já foi uma entidade séria e representativa. Hoje não é mais. Nem sei, ao certo, o tempo em que fui associado da UBE, de São Paulo. Mas são mais de quatro décadas, seguramente. Participei de muitas campanhas de eleição na UBE. Nunca aceitei qualquer cargo de direção na entidade. Trabalhava por uma chapa por convicção literária e também ideológica. Sou apenas um poeta. Um poeta que se dedicou a vida inteira à Poesia. Também sou um jornalista que se dedicou a vida inteira ao jornalismo cultural, à crítica e à promoção de livros. Por exemplo, no suplemento “Jornal de Domingo” que criei e editei por 13 anos no extinto Diário de São Paulo, dos Diários Associados, havia lugar para todos, democraticamente, até para desafetos declarados. Por esse trabalho em favor do livro e da literatura foram me concedidos dois Prêmios Jabutis de Imprensa, da Câmara Brasileira do Livr

Letargia

  Campo de trigo de Vincent Van Gogh Velha paisagem morta       absinto, verdura arcaica               sono ruminante, a vida do boi                        anda em rodeios.

Estiagem

Aquarela de Lincoln Koga Verão, flores secas. No tapete atordoado da noite, os insetos amarelos fincam agulhas. 

Poema para soprar no vento

 É o vento forte que vem do coro de vozes no encontro com a melodia do infinito. É o vento que vem gemendo na espinha do abismo turvo insondável que me separa de mim. É o vento percutindo as teclas do telhado. Abro as janelas da memória Abro as janelas da casa, é o vento encanando no corredor ventilando fantasmas, que rompe o cerco das paredes, explodindo a argamassa de calcário e solidão. é o vento coreografia de pássaros. inunda meu quarto crescente das pupilas dos meus olhos debruçados sob o vento. Abro as cortinas do vento, sinto a torrente de vida, a clara algazarra das vozes aveludadas, sanguíneas da alvorada. É o vento que vem abrindo as lentas pálpebras. É o vento que molha a boca de paixão calada, é o vento que vem mordendo a carne congelada das nuvens negras, o mofo acumulado entre os lábios, o limo que vestiu a carne desolada. É o vento que faz rolar os cascalhos, os seixos sem rumo das trevas. É o vento que vem estripando o seu sorriso embalsamado, é o vento que rec

Espetáculo no Procópio Ferreira e workshop no Matarazzo

 Flyer da Cia Os Crespos de São Paulo Em 10 de fevereiro, próxima sexta-feira, haverá o workshop gratuito “O Teatro Negro no Brasil”, das 14 às 17 horas, no centro Cultural Matarazzo, e às 21 horas, no Teatro Municipal Procópio Ferreira, no subsolo do prédio da Prefeitura, na Avenida Coronel José Soares Marcondes, será apresentado o espetáculo “Além do Ponto”, uma criação da Companhia de Teatro Os Crespos, de São Paulo. O evento tem o apoio do ProAC (Programa de Ação Cultural) da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. Entretanto, os ingressos para a peça são gratuitos e estarão disponíveis no balcão de entrada do centro Cultural Matarazzo, de 6 (próxima segunda-feira) a 10 de fevereiro (sexta-feira), das 8h30 às 21h e, aos sábados, das 8h30 às 12h30. Classificação: 14 anos. Quanto ao workshop “O Teatro Negro no Brasil”, ministrado pelos componentes do grupo, haverá disponibilidade de apenas 30 vagas, por isso, é necessário que as inscrições sejam feitas com antecedência

Rotina

 "Exploro os mistérios irracionais dentro de uma toca que chamo 'lugar de ser inútil'. Exploro há 60 anos esses mistérios. Descubro memórias fósseis. Osso de urubu, etc. Faço escavações. Entro às 7 horas, saio ao meio-dia. Anoto coisas em pequenos cadernos de rascunho. Arrumo versos, frases, desenho bonecos. Leio a Bíblia, dicionários, às vezes, percorro séculos para descobrir o primeiro esgar de uma palavra.” Manoel de Barros ( 19.12.1916, Campo Grande, Mato Grosso do Sul ) “Meu fado é de não entender quase tudo. Sobre o nada eu tenho profundidades.” "No osso da fala dos loucos têm lírios." “Onde eu não estou, as palavras me acham.” “Poeta é um ente que lambe as palavras e depois se alucina.” “Natureza é uma força que inunda como os desertos.” "A palavra amor anda vazia. Não tem gente dentro dela." "Noventa por cento do que escrevo é invenção. Só dez por cento é mentira.”

O inferno é fogo

“O inferno não depende da presença do diabo E lá ninguém tem medo do poder de Satanás O inferno não recebe nem turistas nem culpados E lá o impossível é como a fuga em Alcatraz O inferno é fogo! Fogo! O inferno não é uma fantasia dos demônios Nem está numa guerra que acabou de começar O inferno não faz parte das mentiras das igrejas Nem é opcional pra quem no céu não pode entrar O inferno é fogo! Fogo! Pura imaginação Ali ninguém entra Pra lá ninguém vai Além daquela porta Tudo que entra não sai O fogo nunca apaga E sempre há o que queimar O inferno não existe Para quem não é de lá.”   (Lobão e Tavinho Paes ) Acesse o vídeo O Inferno é Fogo, 1991, do acervo particular do Lobão. http://youtu.be/Z4Vk_lgicas