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Mostrando postagens de outubro, 2011

Negros galhos que abrem sob a chuva

 Depois de todos os encantos idos, lhes chega a tormenta, em vôo silencioso Coruja triste que só faz o pouso no oco dos velhos troncos corroídos Oh! O silêncio de sala de estar, espera Onde esses pobres, guarda-chuvas lentamente escorrem... Não traz venturas, certamente Mas dá grande desconforto... E em verdade pergunto: Onde está o calor das coisas na rua, ao desabrigo Tu verás que tudo é sombra vã, Tênue fumo que a morte assopra num momento da agitação da vida. Uma canção que não tem sentido, como não tem sido a brisa, nem a vida... Perdido, perplexo diante do cinema projetado em teus olhos mudos, imagens que desfiam a tua carne com dentes cinza chumbo, Imagem doméstica do gato, que mora no mundo para sempre por entre antigos retratos de parede Os teus olhos conseguem ficar longo tempo abstratos às vezes, você fixa os objetos, obstinados porque eles se desumanizam de todo.                  Vestes de trevas e vidrilhos cabeleira trágica, olheiras suspeitas O grito horizontal

Roda rodando

 Muita coisa sofro pela raça: Sou enraizado pela herança do espírito ao anarquista, aventureiro, fidalgo e ao encantador de serpentes, espetáculo do ilusionista passageiro. Efeitos resgatados pela imagem e semelhança de mil vidas superpostas. Não nasci há cinco décadas deste século: sou o encarcerado do homem que fui. Nasci do plano atribulado, vivi mil ternuras desdobradas dos amores intensos que tive. Vim para desaguar o choro que desamei e fui amado. Vim para banhar novamente no rio. Vim para discernir o mal do bem. Vim para suportar a pequena existência do Eu carnal privado de recursos no palco mambembe. Assisto às dúvidas e contradições, personagem de enigma, sou eu quem julgo os quatro elementos. A ciranda de pedra, da vida gravada em mármore, pois tudo passa, e se reduz à efemeridade menos a memória da bem-amada. Tudo se reduz aos pensamentos, contatos à superfície do teu corpo. Pregaram-me no mapa-mundi, transferiram-me uma alma bucólica e um corpo desconjuntado. Puser

Retrato de um povo

Romancista tem um diferencial: traduz com maestria os fatos históricos por meio de acontecimentos interessantes e articulados             KALUNGA       Autor: Custódia Wolney       Ícone Editora       Interesse Geral – Literatura – Romance Histórico       ISBN 978-85-274-1189-9       14 x 21 cm       216 páginas       0,300 kg       R$ 24,00 Link: Livro no site da Ícone Editora         Uma mulher, uma história e uma vida. O retrato da origem de um povo e o valor de sua cultura. A luta da comunidade Kalunga , remanescente de quilombos, sendo contada ao espelho da experiência vivida por uma personagem que resgata a cultura, as tradições, as lendas e a religiosidade, onde o sagrado e o profano convivem harmoniosamente. Uma comunidade que luta pela preservação de sua história e de suas terras nas entranhas deste nosso imenso Brasil. E, é claro, o que não poderia faltar: uma eterna luta pelo amor e pela felicidade. A autora          Custódia Wolney , escrit

Veias abertas da vida miserável

Carolina Maria de Jesus na extinta Favela do Canindé O brilho de uma escrita permanece pela forma de narrar Em 1958, o jornalista e escritor Audálio Dantas revelou aos leitores o diário de uma catadora de papel, negra, mãe solteira, semialfabetizada que narrava o dia-a-dia na extinta Favela do Canindé. O depoimento cru e forte de Quarto de Despejo , de Carolina Maria de Jesus (1914-1977), marcou por sua denúncia social, lançando uma luz sobre as privações e a vida corriqueira de quem não tem perspectiva de ascender na vida. Em uma semana, o livro vendeu toda a sua primeira edição de 10 mil exemplares, além de ser vertido para treze idiomas. Só para se ter uma noção da importância e valor do livro, o prefácio da tradução italiana foi assinado por ninguém menos do que o consagrado Alberto Moravia. Hoje, 50 anos depois da publicação de Quarto de Despejo , os seus manuscritos que lhe deram origem foram doados por Audálio à Biblioteca Nacional. Isto aconteceu durante uma visita de

De gotas, silêncio e meditação

Ilustração de Rubens Shirassu Júnior Era preciso que ficássemos imóveis, talvez, respirando com mais cuidado, até que levássemos as mãos e os corpos de encontro. Então, tínhamos um suspiro de alívio. Havíamos vencido, mais uma vez, os nossos inimigos. Nossos inimigos eram toda ansiedade, preocupação, stress, inquietação, medo, apesar da população mesquinha e frívola da cidade imensa, que transitava lá fora, nos veículos, dos quais nos chegavam o barulho distante de motores, a sinfonia abafada das buzinas, às vezes, o ruído de um carro estacionando em frente de casa. Todos os barulhos, por mais intensos que sejam, caem nas águas do silêncio e viram gotas brilhantes como contas de vidro, fundem-se com as cores das auroras. Tínhamos os ouvidos apurados, esperávamos quietos, a cadência das gotas batucando no telhado. Um segundo, dois – e o batuque ritmado tocava alto, rascante dentro das nossas cabeças. Que mecanismos são acionados para produzi-los, se nada neste mundo é gratuíto? Um

XIX Congresso Brasileiro de Poesia homenageia Affonso Romano de Sant´Anna

Cartaz do tradicional evento de Bento Gonçalves              Como é tradição em todo o início de outubro, a cidade gaúcha de Bento Gonçalves, a “Capital Brasileira da Uva e do Vinho”, abriu suas portas para a caravana de poetas que estão participando, desde o último dia 3 até 8 de outubro, da décima nona edição do Congresso Brasileiro de Poesia, um dos maiores encontros de poetas das três Américas. O tema desta edição será “A Poesia Vivida”, em homenagem ao poeta mineiro Affonso Romano de Sant’Anna. Aproximadamente cem poetas de diversos estados brasileiros e de alguns países latino-americanos já confirmaram presença e irão protagonizar uma programação diversificada, composta por muitos recitais, performances, rodas de poesia, espetáculo teatral, palestras nas escolas e debates sobre as diversas formas do fazer poético. A abertura do evento aconteceu no Salão Nobre da Prefeitura Municipal, às 17 horas, em 03.10.11, última segunda-feira, com recital do poeta homenageado e perform